Na idade dele

É a primeira vez que eu acompanho, do começo ao presente e com plena responsabilidade, a vida de um cachorro. O Panguá nasceu dia 25 de dezembro de 2012 em Itajubá, no sul de Minas. Capricorniano com Sol conjunto a Plutão. Lua em Gêmeos.

Cachorro marrom filhote, de pelos encaracolados. Ele dorme deitado sobre jornais espalhados pelo chão.
2013

Hoje, no retorno da consulta, a veterinária informou enquanto apalpava o meu cachorro que a gastrite parece ter sumido. Diz que é um perigo pros caninos, porque logo vira úlcera e o cachorro morre de repente. Mas mesmo assim é melhor parar de dar o remédio pro estômago, já que, “na idade dele”, o remédio pode afetar os rins.

“Remédio você sabe como é, né, concerta uma coisa e desarruma outra.” O Panguá todo serelepe no consultório pequeno parecia desarrumado tanto quanto sempre. A veterinária ainda identificou que a dor na coluna tinha melhorado e agora era só uma dorzinha.

Panguá ainda filhote, mas mais velho. Sentado no chão, ele olha para cima, na direção da câmera. É inteiro marrom e tem olhos grandes e brilhantes.
2013

Respirando fundo debaixo da máscara improvisada, eu já sentia a dor na carteira quando perguntei: ok, então como tratamos isso? Dou mais remédio? A veterinária sentou na cadeira e, por baixo da máscara profissional, sorriu:

“Não tem muito o que fazer. Na idade dele é assim mesmo: um bico de papagaio, um desgaste do osso, ainda mais nessa parte que sente mais o peso. Aos poucos esses problemas vão aparecendo”.

Na hora me veio a imagem do Panguá se atirando desembestado pelo corredor de casa, pulando degraus, derrapando e ameaçando me morder o saco. Tudo de brincadeira, lógico. Na idade dele, mesmo se cansando mais rápido que antes, ele brinca bastante.

Panguá adulto ao lado de um pé de café. Ele está sentado sorrindo sobre muitas folhas verdes.
2016

Essa coisa de dizer que doença é coisa de velho é só meia verdade. Tem gente que já nasce doente. Às vezes, nasce tão doente que mal nasce e já morre. Quem nasce e sobrevive vai crescendo, vai virando outra coisa, a mesma pessoa mas de outro jeito, e ninguém passa pela vida sem morrer. Quanto mais tempo você fica no corpo, mais esse corpo tem chances de adoecer, de estragar, de pifar.

Pra cachorros, a regra é a mesma. Em 2020 o Panguá vai fazer oito anos. Ainda é novo, mas também já é velho. Acho que minha carteira vai doer mais vezes enquanto estivermos juntos.

Por sorte, a veterinária é gente boa. Na saída ela se despede elogiando o meu cachorro e fala que ficou feliz por ver ele tão bem. Usa com ele a mesma voz boba que usamos com nenéns e que, no caso dos cães, serve pra vida toda. Velhinho, o Panguá saiu pra rua todo feliz, saltitando na calçada, e encheu de mijo o primeiro poste que encontrou.

Panguá em 2020. É um cachorro muito peludo, com os pelos marrons ou loiros. Ele está sentado à mesa, em cima de uma cadeira, e sorri.
2020